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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Tolerância Religiosa, os Direitos Humanos e a Condição Feminina

Voltando ao tema da tolerância religiosa, resolvi abordar as questões da condição feminina. Sobre esse último assunto, o primeiro livro que me vem à mente é "Sexo e Poder", onde o sueco Göran Therborn faz um incrível comparativo das relações familiares em todas as parte do mundo, ao longo de todo o século XX. Lembro que quando o li, uma das coisas que mais me surpreendeu, foi a condição da mulher indiana. Ao contrario do que eu imaginava, e de como é o senso comum, a mulher hindu, pelo menos ao longo do século XX, esteve em condição muito mais inferiorizada no casamento do que a mulher muçulmana.
Mas então, por que aqui no Brasil, quando damos exemplos de mulheres submissas sempre lembramos das muçulmanas ortodoxas? Na minha opinião é porque a mídia internacional dá muito mais destaque para elas do que para as hindus. No Brasil, tanto a população de hindus quanto de muçulmanas ainda é muito pequena para termos o impacto nas ruas.
De qualquer forma, a "média" da população condena a condição feminina nessas religiões. É claro que isso é uma generalização MUITO grosseira. O islamismo, assim como o cristianismo, tem várias vertentes e a condição feminina varia em todas elas, além de variar de acordo com o grau de instrução, a classe econômica e a região onde vivem. Mas, vamos supor que, novamente, a "média" condene o uso de véus que cubram o corpo todo. O que nos dá o direito de fazermos esse tipo de condenação?
Fui procurar Declaração Universal dos Direitos Humanos e encontrei lá que os direitos não fazem distinção de sexo ou religião (Artigo II), mas também fala da liberdade religiosa (Artigo XVIII). E, embora alguns países nunca a tenham respeitado (nem mesmo formalmente), a nossa Constituição tem um capítulo inteiro para garantí-los. Ainda assim eu fiquei em dúvida. Como pode ser garantida a liberdade religiosa e a igualdade entre os sexos se a maior parte das religiões fazem distinções que inferiorizam a mulher?
Acho que a resposta deve ser dada pelas próprias interessadas. Deixemos que elas decidam se querem ou não terem direitos iguais. Deixemos que elas exerçam o seu livre-arbítrio. Aí você me pergunta: como pode uma mulher que pertence a uma determinada seita que não lhe permite em nada opinar exercer o seu livre-arbítrio? Exercer, talvez não, mas, como diria Millor Fernandes, "livre pensar é só pensar".
Por outro lado, há muitas mulheres que do mais profundo dos seus desejos, não querem mudar realmente a sua condição de inferioridade. Essas mulheres não se enxergam assim. Eu cheguei a essa conclusão de uma maneira meio torta, assistindo ao vídeo "Deus"* do canal Porta dos Fundos no YouTube.
No vídeo uma mulher descobre que Deus não era quem ela pensava. E mais, descobre que todos os grandes nomes da História e da religião também estavam errados. Pois bem, para a maioria das pessoas, descobrir que tudo o que você acreditava está completamente errado é o mesmo que morrer espiritualmente. Muitos preferem manter a sua vida imutável para não perderem todo o sentido de suas vidas.

 atenção esse vídeo pode ser ofensivo para algumas audiências.


FONTES:



Livro: Sexo e Poder: A Família
no Mundo 1900-2000(Göran Therborn) Editora Contexto, 2006

http://www.editoracontexto.com.br/sexo-e-poder.html

Censo 2010 - Religiões: ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/tab1_4.pdf

História da Declaração Universal dos Direitos Humanos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_Universal_dos_Direitos_Humanos

Constituição Federal: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

Para ter uma outra visão sobre as muçulmanas no Brasil: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/MA/article/viewFile/698/699<>

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