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sábado, 9 de novembro de 2013

Ninguém é 100% livre

Tive uma recente discussão sobre o que é ser, ou pelo menos estar, 100% livre. A minha resposta rápida foi, ninguém é 100% livre. A primeira imagem que me vem à mente é a do fantasma de Jacob Marley todo envolvido em uma enorme corrente, no famoso “Conto de Natal” de Dickens. Na história, cada elo da corrente que Marley carregava era formado por cada ato mesquinho e cada desperdício de vida. Além disso, a corrente de Marley estava presa a pesados cofres, cadeados e bolsas de ferro. Um suplício para toda a eternidade.
Fantasma de Marley aparecendo para Scrooge (fonte: Wikipédia)
Não tenho uma visão tão negativa dos elos que nos prendem. Só acho que, como não podemos viver sem dependermos, de alguma forma, dos outros, ninguém é totalmente livre. Sempre temos uma memória escondida, sempre amamos alguém, sempre devemos um favor, sempre temos as obrigações com os outro que nós criamos ou que aceitamos. Sim, estou falando só daqueles elos que nos prendem por vontade própria. Veja bem, se eu sou um prisioneiro de alguém, mas posso manter livre o meu pensamento eu, pelo menos tenho alguma coisa livre. Por outro lado, se o que me prende é uma ideia ou um sentimento que está dentro de mim, eu não sou totalmente livre. Nem quando eu durmo, ou você nunca teve um pesadelo com o passado?

Todo mundo tem uma mãe, um filho, um marido (ou um ex-marido), um colega, um vizinho ou mesmo um desconhecido que cruzou o seu caminho e que um dia precisou da sua ajuda. Da mesma forma, quem nunca teve que pedir um favor a um estranho, uma moeda para completar um troco, uma licença para usar o banheiro num momento de muito aperto, a gentileza de abrir uma porta quando você está cheio de pacotes nas mãos? Cada evento desses vai criando elos na sua corrente. Mas, do mesmo modo que correntes prendem âncoras que nos impedem de progredir, elas também são usadas em guindastes que nos elevam.

É você que cria as suas correntes e pesos aos quais ela se prende, nunca coloque a culpa em ninguém. Essa culpa atribuída aos outros só cria mais peso. Você, provavelmente, pode ter cometido vários erros no passado, eles também são pesos na sua corrente, e você nunca vai se livrar deles (mesmo que esconda dos outros eles povoarão as suas memórias). Portanto não se torture tanto com os erros do passado, mas também não deixe de correr riscos de cometer novos erros. É correndo riscos que criamos novos elos positivos nas nossas correntes.

Uma pessoa que se sente totalmente livre (não digo aqueles que apenas falam, mas aqueles que realmente acreditam nisso) é alguém que perdeu muito da sua humanidade. Essas pessoas sem empatia são consideradas doentes, psicopatas. Assim, em nome da minha sanidade mental, procuro não ser 100% livre. E você?

Fontes:
- Um Conto de Natal - Charles Dickens (versão integral em pdf): http://www.klickeducacao.com.br/2006/arq_img_upload/paginas/4386/contos_de_natal.pdf
- A Christmas Carol – Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Christmas_Carol

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