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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Falhas de comunicação (beep...beep...beep...)

Como aprendi a dar valor a espera por uma notícia.

Pode ser que, mais uma vez, a minha memória esteja me traindo, mas neste caso, como em boa parte da vida, o que importa é a história lembrada e não o fato em si. Pois bem, estava eu, num quente domingo de janeiro de 1990 fazendo a prova de redação do vestibular (eu sei que já estava bem velho para o vestibular, mas isso não vem ao caso). O que importa é que até hoje me lembro do tema, era sobre transformações, que estávamos vivendo e que viveríamos no futuro. Como de costume, havia um texto inicial, esse falava sobre a batalha de Waterloo, mais especificamente sobre as transformações que a Europa sofreria com os resultados daquela batalha e da expectativa da chegada da notícia da vitória, ou de Napoleão ou de seus opositores. Aqueles dois ou três dias de espera pelas notícias vindas dos campos da Bélgica foram angustiantes para os habitantes de Londres, Berlin ou qualquer cidade mais distante no continente.
Batalha de Waterloo - Fonte: Wikipédia
Diante do tema e do texto resolvi abordar a transformação das comunicações. Para entendemos melhor, vamos retroagir ao ano de 1990, aqui no Brasil. Para você ter uma ideia, não tinha sido inventado o “WWW”, nem os navegadores da internet. Aliás, a internet era uma novidade que estava restrita aos meios acadêmicos, nem acesso a e-mail as pessoas tinham em casa ou no trabalho. Telefone celular, no verão de 1990 ainda não tinha sido lançado no País. Mesmo o telefone fixo era raro e muito caro. Lembro que em 1994 o meu sogro vendeu a linha de telefone que ele tinha e deu entrada no pagamento do apartamento que ele mora até hoje. TV a cabo também não tinha. O que existia eram mídias mais tradicionais, jornais diários, revistas semanais e alguns canais de TV aberta (normalmente 1 ou 2, nas grandes cidades 4 ou 5) e, é claro, o rádio.
Foi nesse contexto que escrevi a redação comparando a dificuldade de comunicação da época de Napoleão comparada com 1990. E antevi, sem grande brilho, que guerras seriam transmitidas ao vivo pela TV (quem viu a Guerra do Golfo lembra-se disso), mas nem imaginava que seriam transmitidas pela internet como ocorreu na recente Primavera Árabe. Hoje, mais vivido e viciado em tecnologias de comunicação atuais: celular, sms, Skype, Twitter, WhatsApp, etc., anseio por respostas imediatas. Uma ligação não atendida, um torpedo não respondido em 1 minuto, uma mensagem não curtida, são razões para entrar em desespero. Penso: o que aconteceu? Por que ela não atende? Será que vai sumir? E outras hipóteses tão absurdas que não valem o comentário.
Fonte: Deviantart

Para me consolar, resolvi voltar no tempo. Não a 1990, nem mesmo a 1970, quando começou a ter sinal de televisão na minha cidade e nós não tínhamos telefone em casa, mas sim a 1815. Fico imaginando aquelas famílias dos soldados sem patente, que depositaram todas as esperanças nos seus filhos e maridos e ficaram esperando por notícias deles, não dois ou três dias como foram as do resultado da batalha, mas por semanas. A Wikipédia diz que 1 de cada 3 soldados envolvidos na batalha, ou morreu, ou foi ferido, ou foi preso ou, simplesmente, desapareceu. Nessa hora não importa se o soldado era francês, inglês ou prussiano, se era o seu marido e ele estava morto, a vitória não existiu. Pior foram aqueles que desapareceram. Tento me colocar no lugar daquele filho no final da infância esperando esperançoso por notícias do seu pai. Tentando identificar cada soldado que via na rua em busca de notícias que não chegavam nunca. A esperança definhando e a juventude indo embora junto. É nessa hora que eu vejo o quão idiota eu sou em ficar ansioso por uma resposta imediata num gadget qualquer. Quando a relação é verdadeira a comunicação retorna.
"Os Girassóis da Russia" - Fonte: Wikipédia
Para terminar lembrei-me um filme que eu gostei muito quando criança: “Os Girassóis da Rússia”, de Vittorio de Sica, com Sofia Loren e Marcello Mastroianni. O filme não se passa em Waterloo, e sim ao final da Segunda Guerra, mas mostra bem o que a guerra e a falta de comunicação faz com os amores.





Fontes:
- Batalha de Waterloo - Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Waterloo
- Filme "Os Girassóis da Rússia" - http://en.wikipedia.org/wiki/Sunflower_(1970_film)
- Site de imagens: http://www.deviantart.com/


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