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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Qual é a diferença entre a depressão e a ansiedade?

Um relato pessoal de alguém que sofre com problemas de depressão e ansiedade.

 
Depressão e Ansiedade
Ansiedade é diferente de Depressão

1 Um resumo da minha história.

Como já diz o título esta é a MINHA história. Não é um texto técnico, pois não sou um especialista no assunto. É apenas um testemunho de alguém que conseguiu conviver com os problemas.
Tenho quase 50 anos e sempre tive problemas de autoaceitação e de relacionamento. Eu simplesmente não conseguia me enquadrar em nenhum grupo. Sentia-me rejeitado e tinha uma sensação constante de inferioridade. Há cerca de 11 anos, depois de um período negro na minha vida, resolvi procurar ajuda pela primeira vez.


2 Como eu percebia o meu problema.

A palavra chave nesse quesito é PERCEPÇÃO. Quem tem problemas de depressão superestima os problemas. Eu, em diversos períodos, me sentia triste, inadequado, às vezes dormia um monte, às vezes ficava acordado quase a noite toda. Quando adolescente andava por horas, sem destino, normalmente de bicicleta, procurando por qualquer coisa que me livrasse do desconforto que eu estava sentido. Algumas vezes ia a alguma festa ou era convidado para sair com conhecidos. Eu ia, até tentava me divertir, às vezes até dançava, ou participava de alguma forma ativa, mas sempre me sentia um estranho no meio do grupo. Sempre tive medo de comparações então fugia da realidade e criava um mundo de fantasia.
Depois de começar a me tratar e a tomar medicação, a situação mudou. E mudou muito.

3 A minha depressão.

Depressão
Deprimido
A minha depressão se manifesta nos momentos em que alguma coisa na minha vida não dá certo. Pode ser desde um desacerto amoroso até um simples dia nublado e escuro, passando por problemas profissionais e familiares ou mesmo o caso de um eletrodoméstico que estragou. Esses períodos de tristeza e de pessimismo são cíclicos, embora tenham uma frequência irregular. É imprevisível a vinda da crise, mas quando ela chega, nunca é muito rápida. Existe um mecanismo de realimentação da depressão. Por exemplo, se estou deprimido, gosto de ouvir músicas mais introspectivas. Além disso, qualquer fator ambiental negativo pode prolongar o problema.
Os sintomas não são muito fáceis de perceber. Às vezes eu não sei a dimensão exata de um problema, é aquela questão da percepção. Uma questão simples, como perder o ônibus que passou antes de eu chegar à parada, pode se tornar um peso com a mesma dimensão de uma doença. Aliás, qualquer gripezinha me deixa muito entristecido. Mais problemático é quando alguém da minha família fica doente, eu sou muito pouco positivo.
Além dos sintomas clássicos, como sonolência alternada com insônia, problemas de apetite (em geral falta dele), e irritabilidade com qualquer coisa (mesmo claridade e barulhos suaves), às vezes tenho crises de raiva. Embora seja um cidadão extremamente pacato, já discuti com algumas pessoas por questões de trânsito e de condomínio. Nunca cheguei a agredir ninguém (ou ser agredido), mas essa não é a questão. O maior problema é discutir por coisas bobas.
A minha depressão é uma pré-disposição biológica. Isso não é uma desculpa, é só um relato. Qualquer pessoa pode passar por períodos de depressão, mas algumas são mais suscetíveis que outras. Da mesma forma que existem pessoas que, apesar das maiores dificuldades na vida, nunca perdem o bom humor.

4 As minhas crises de ansiedade.

Ansiedade
Ansioso
Antes eu achava que era tudo uma coisa só. Não que, racionalmente, eu não soubesse a diferença entre ansiedade e depressão, o problema são as sensações. Alguém de fora da situação, especialmente os profissionais de psicologia e psiquiatria, mas também conselheiros religiosos, assistentes sociais e mesmo familiares e amigos, consegue enxergar melhor que você está deprimido e/ou ansioso.
Em mim, a ansiedade se manifesta como o sentido de urgência de fazer alguma coisa. Uma inquietude angustiante que você acha que tem que agir. Eu roia as unhas até os 12, naquela altura, depois de muito esforço e duas unhas perdidas por infecção, decidi que era hora de parar. Com o tempo isso foi mudando e sempre que me sentia angustiado, com uma sensação de estômago embrulhado tentava me livrar daquilo. Podia ser tremendo a perna compulsivamente ou caminhando por horas. Mais tarde foi ficar catando coisas na internet ou na TV, ou então ir ao cinema e procurar ler obsessivamente. Busquei várias alternativas bem menos dignas.
Sempre fiquei feliz em realizar trabalhos com metas, como projetos de implantação de um negócio novo ou obras. Gosto de trabalhos que têm prazo e são desafiadores, isso acalma a minha ansiedade (ou pelo menos ocupa o meu tempo). Sou muito bom em trabalhos analíticos e investigativos, do tipo que tem que analisar milhares de dados, documentos ou evidências, para comparar e tirar conclusões. É a ansiedade também pode resultar em coisas positivas é só você saber canalizar.

5 Como estou hoje e como estarei amanhã?

Confesso que foi bem difícil escrever este post. Sempre tenho procurado manter a minha privacidade nos meus relatos, mas achei que era hora de falar um pouco de um problema que já me afetou bastante e assim poder ajudar outras pessoas.
Hoje faço terapia, não sei quanto tempo vou continuar, pois já parei antes. Também tomo antidepressivo (não vou citar o nome para evitar a automedicação). O remédio me ajudou bastante, notei isso já nas primeiras semanas de uso. Em mim, não houve nenhum tipo de sensação de euforia ou alívio. A impressão que eu tenho é que ele deixou as coisas mais “claras”. Já disse que nos períodos de depressão mais severos, fico com uma visão distorcida da realidade, ampliando (e muito) a dimensão dos problemas. A medicação ajudou a perceber melhor os sintomas da depressão, facilitando assim a busca por soluções racionais para os problemas. Ele não evita a depressão, mas me dá oportunidade de tentar sair dela. Sem a medicação acabo precisando de mais apoio de outras pessoas. Já fiquei alguns períodos sem o remédio, nesse período constatei que existe uma espécie de “treinamento” mental que você acaba fazendo em si mesmo para perceber a depressão. Ou seja, mesmo sem o remédio eu tenho uma consciência melhor da “dimensão” das dificuldades.
Quanto às crises de ansiedade tento lidar com elas canalizando para atividades produtivas, como fazer este post, por exemplo. Já tomei algumas vezes pequenas doses de ansiolítico (também não vou dar “receita”), mas uso muito raramente, só quando percebo que o meu estado está em “alta-voltagem”. Também uso ansiolítico para viajar de avião porque morro de medo (que eu sei que é algo completamente irracional). De qualquer forma, se terminar todo a ansiolítico no Mundo, sei que não vou mais precisar.
Levo uma vida normal, trabalho normalmente e me sustento com o meu trabalho. A depressão não me afastou nenhum dia do meu trabalho. Tenho filhos ótimos e me relaciono bem com a minha família. Não tenho inimigos e levo uma vida tranquila, se considerarmos somente os fatores externos. Felizmente, nunca estive nem perto de uma internação. Você pode ver que ser um depressivo não é o fim do mundo, é só uma condição que atrapalha um pouco a sua vida. Por outro lado, se você souber administrar a situação, é como ter miopia, usando óculos leva uma vida normal.

6 FONTES auxiliares:

- Imagens: Deviantart e Stock.Xchng

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