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terça-feira, 10 de novembro de 2015

A minha primeira TV

Um balanço da influência da TV na minha primeira infância.


Fonte: Deviantart e Wikipédia
Estava olhando num restaurante, um menino bem pequeno. Os adultos conversavam enquanto ele se distraia com um tablet. Fiquei lembrando que quando tinha a idade dele não tinha essa opção e, aliás, nem televisão eu conhecia. Pois é, por incrível que pareça eu fui conhecer televisão só com quase 4 anos. Na verdade, na minha distante cidade no interior não pegava nenhum canal. Foi quando um político/comerciante da cidade decidiu reunir fundos entre os moradores para instalar uma antena repetidora de TV. Na verdade, isso possibilitava pegar apenas um canal de TV e o canal escolhido foi o que transmitia a programação da Rede Tupi, que foi a primeira e na época a maior do Brasil.


A minha geração foi muito influenciada pela televisão. Não só pelo conteúdo dos programas, mas também pela própria existência do aparelho. Ela passou de um artigo de luxo para um eletrodoméstico de primeira necessidade. A primeira imagem que eu lembro de uma TV, foi quando o meu pai comprou uma e toda a vizinhança veio olhar o aparelho. Era tanta gente que os meus pais abriram as duas folhas da porta da sala. Isso permitiu que os que estavam no jardim, e mesmo na calçada, pudessem assistir o programa (que eu confesso não lembrar qual era). Naquele momento eu entendi o que era ser rico: ter alguma coisa que os outros não podiam ter. É claro que a vida me ensinou, rapidamente, que não éramos ricos. Eu somente tinha pais jovens e que gostavam de novidades eletrônicas. Se fosse hoje eles comprariam um gadget qualquer da Apple. Talvez um ipad para me distrair no restaurante.

Como eu passava o dia na escolinha e a programação noturna não tinha nada de infantil, entendia que a TV era uma diversão para os adultos. Eu queria era brincar no pátio. Porém eu lembro nitidamente de dois momentos que os adultos me colocaram na frente da TV e disseram: “senta aí e presta atenção, porque isso vai ficar para a história”. O primeiro momento foi quando a nave Apollo 11 pousou na Lua. Eu que nem tinha completado 4 anos, lembro nitidamente das imagens “ao vivo” (naquela época ainda não existia vídeo tape). A minha pequena cabeça ficou atordoada: “se tem gente que foi para a Lua, então eu também posso”.

O segundo momento foi no final da Copa do Mundo de Futebol de 1970, no México. Eu brincava na sacada da casa da minha avó e ouvia a gritaria do pessoal sem dar bola. Foi quando a minha tia correu para me pegar: “o Brasil vai ser Campeão do Mundo!!!”. Já sentado na frente da TV pude assistir o último gol e a explosão de alegria na cidade toda ao fim do jogo. Essa foi a primeira final de Copa do Mundo televisionada ao vivo. Saímos de carro desfilando as bandeiras pela cidade. Jamais vou me esquecer.

No final da minha primeira infância eu vivia num país que era campeão do mundo (que para mim queria dizer que o Brasil era melhor do que os outros, não importava no que). Além disso eu vivi a ilusão de que no Século XXI as viagens espaciais seriam para qualquer pessoa.

Fontes:
http://www.deviantart.com/art/TV-71732951
https://pt.wikipedia.org/wiki/Copa_do_Mundo_FIFA_de_1970
https://pt.wikipedia.org/wiki/Apollo_11

Um comentário :

  1. Conceito interessante sobre ser rico: ter algo que os outros não tem. Gostei.

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