Páginas

terça-feira, 17 de novembro de 2015

O carro dos sonhos do meu pai

Refletindo sobre a diferença entre a expectativa dos sonhos e a realização deles


Fonte: Wikipédia
Há 29 anos a banda de rock "Camisa de Vênus" lançava o seu álbum de maior vendagem, “Correndo o Risco”. O grande sucesso do disco foi a música "Simca Chambord". Na música, a banda fazia um paralelo entre o primeiro carro de luxo produzido no Brasil e as mudanças políticas que ocorreram no país durante período em que ele foi produzido aqui. Eu já tinha ouvido falar no Simca Chambord, mas como eu nunca me importei muito com marcas e modelos de carros não sabia nada sobre ele até que a música começou a tocar nas rádios.
 
É engraçado quando a gente é jovem e descobre alguma coisa interessante da geração anterior. A primeira impressão é de que seja impossível os nossos pais e professores conheçam a nossa "novidade". É como se estivesse cristalizado na nossa mente que a geração deles não tivesse nada de atraente a nos apresentar além de regras e sustento. Então, dá para imaginar a minha surpresa quando o meu pai, ouvindo pela primeira vez a música, falou: ah! O Simca Chambord é o carro dos meus sonhos! Só que quando eu, finalmente, juntei dinheiro suficiente para comprar um zero quilômetro, ele já tinha saído de linha.

Esse comentário dele é um dos que eu lembro com mais frequência. Na época que ele falou isso ele já tinha comprado vários carros novos e, para mim, não fazia sentido ele querer um carro antiquado e desconfortável de duas décadas atrás. Com os anos - ironicamente, na época do comentário, o meu pai era mais novo do que eu sou hoje - fui entendendo que a questão não era o carro em si, era o "sonho".

Me questiono muito sobre esses sonhos de consumo como um objetivo para alcançar a felicidade e/ou bem estar, mesmo que não seja por coisas que o dinheiro pode comprar. Já tive o sonho de ter imóveis, roupas, eletrônicos, títulos acadêmicos, empregos, de dar festas, ir a shows e mesmo os possuir carros que eu disse que não me importava muito. Mas o que eu sempre sonhei, mesmo, foi com viagens. Conhecer muitos lugares, correr o mundo. Fiz um pouco disso, mas bem menos do que eu falava e planejava. Sempre dava desculpas: falta dinheiro, falta tempo, compromissos com a família, incertezas diversas, etc. Claro que não sou ingrato com o passado. Das viagens que eu fiz, guardo o máximo de momentos e detalhes na memória (e em milhares de fotos), como um tesouro. Cheguei a visitar o lugar dos meus sonhos de infância, foi muito bom, mas não foi como no meu sonho. O problema não estava nos lugares, estava em mim e nas minhas expectativas de realização pessoal projetadas nos meus sonhos. Em outras palavras, eu levava os meus problemas juntos comigo enquanto "realizava o sonho", e eles não foram resolvidos "magicamente" como eu imaginava.

Eu continuo sonhando, só desisto quando morrer, só que evito depositar no sonho a promessa de felicidade. O meu maior sonho hoje (na realidade uma fantasia distante), é ganhar muito dinheiro na loteria. Eu não deixaria de ser quem eu sou hoje, mas quem sabe eu não comprava um Simca Chambord de colecionador para o meu pai?

Tem gente que fica achando que só vai ser feliz quando o seu time for campeão. E você, procura realizar os seus sonhos ou ainda espera que eles te realizem?

Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Simca_Chambord
https://pt.wikipedia.org/wiki/Camisa_de_V%C3%AAnus
https://pt.wikipedia.org/wiki/Correndo_o_Risco

Nenhum comentário :

Postar um comentário