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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Desculpando (um pouco) o racismo

Considerações sobre o racismo "científico" e as gerações que foram influenciadas por essas ideias.


Francis Galton - Wikipedia
Estava lendo o delicioso livro de Leonard Mlodnow, sobre a aleatoriedade e a influência que ela tem em nossas vidas, "O Andar do Bêbado" e me deparei com um trecho sobre o Eugenia. Você pode se perguntar o que um livro sobre a história da estatística e da probabilidade falaria sobre o melhoramento genético. Ocorre que Francis Galton, primo de Charles Darwin, foi um médico que viveu na metade do Século XIX e que como matemático brilhante foi quem introduziu o pensamento estatístico na biologia. Quando ele fundou a Eugenia, do Grego eu (bom) e genos (nascimento), aparentemente, ele pretendia melhorar a condição humana (tal como eliminar doenças hereditárias) através da reprodução seletiva.

Com certeza foi uma ideia simples, mas revolucionária. Baseado nos estudos que fez das características humanas e com a ajuda das ideia do livro de Darwin publicado 10 anos antes do seu, incentivava processos de seleção artificial nos humanos. Do mesmo modo que, há milhares de anos, a humanidade já fazia com produtos agrícolas e com animais domésticos.

Entre 1869, data da publicação do "Gênio Hereditário" de Galton, até 1945, com a derrocada final do nazismo alemão, muitos cientistas sérios, apoiados por forças econômicas e políticas poderosas, reafirmaram a validade da Eugenia. O problema é que ela, ao invés de melhorar a humanidade, acabou piorando as condições de várias populações pela justificativa "científica" para o racismo e a discriminação social.

Hoje a grande maioria das sociedades condena formalmente o racismo e os racistas "declarados" são os que vivem nos "guetos" culturais, se escondendo em blogs obscuros e em literatura subversiva. Ninguém com uma cultura científica razoável atualmente tem coragem de defender a Eugenia. Mesmo as leis, que ainda existem em alguns lugares do mundo, que proíbem a procriação de pessoas com problemas genéticos estão acabando.

Nesse contexto, hoje eu entendo muito melhor um capítulo de um livro de ciências que o meu avô (aquele de quem já falei outras vezes), usava na escola. O livro "Noções de Ciências Físicas e Naturais", em uma edição de 1920, diz, logo no início do capítulo de ciências naturais, que a [...] raça branca ou caucasiana [...] são os mais inteligentes e sua influência estende-se sobre todos os outros homens.
Texto original sobre a superioridade branca

Meu avô não era um homem especialmente racista. Sempre foi um homem que fez muitas obras sociais, apesar de ser pobre, e nunca fez parte de nenhuma organização que fizesse apologia à superioridade branca. Bem pelo contrário, detestava os fascistas. Mesmo assim me lembro de algumas declarações antissemitas, do tipo "paranoico" sobre o "sionismo internacional". Por outro lado, vendo o livro de ciências para adolescentes de 1920, é fácil de entender como uma geração que foi criada entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial pode apoiar tão facilmente teorias sobre superioridade racial.

Assim como não podemos mudar o passado, também não podemos esquecê-lo para não corrermos o risco de repetir os mesmos erros. Foi pensando nisso que mostrei o livro para a minha filha de 11 anos.

Fontes:
- "O Andar do Bêbado" - Como o Acaso Determina Nossas Vidas - 
Autor: Leonard Mlodinow - Editora: Zahar - 2009.
- "Noções de Ciências Físicas e Naturais" - Editora: Livraria Francisco Alves - 1920
- Eugenia - Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Eugenia
- Charles Darwin -Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Darwin
- Francis Galton - Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Galton
- Sionismo - Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sionismo

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