Da série "Corrupção e Obras Públicas". Você pode entender como fantasia ou ficção, eu só conto o que eu vi, ouvi e vivi. Será?
Fonte: openclipart.org |
Um fiscal corrupto pode agir de várias formas, ele pode criar dificuldades para forçar a empreiteira a pagar para facilitar a sua atuação na obra, ele pode fazer vista grossa à má qualidade dos serviços, e também pode aumentar as quantidades medidas para que a empreiteira fature mais (são quantidades e até serviços fantasmas). Mas o mais comum é que o fiscal corrupto atue de todas as formas. Um exemplo hipotético: um fiscal reclama da qualidade de um trecho de obra e se recusa a “liberar” a medição; para que isso aconteça a empreiteira pode oferecer algum valor em dinheiro ou outro tipo de favor; quando o fiscal aceita a relação está selada, ele entrou na folha de pagamento; o próximo passo é o fiscal medir mais serviços do que o executado (maior volume de concreto, por exemplo), ou mesmo a medição de serviços que nunca foram executados, mas que são de difícil verificação. No exemplo que eu dei a empreiteira superfatura a obra, sem precisar fraudar a licitação (são os serviços extras). As variações são diversas, mas o resultado é o mesmo, o fiscal obtém vantagens indevidas e a empreiteira “compensa” isso entregando um produto de menor qualidade ou em menor quantidade do que o que foi faturado.
Você pode me perguntar, então todo o fiscal de obras é corrupto? NÃO. Embora eu tenha testemunhado muitos casos e ouvido inúmeras histórias, acredito que deva haver uma maioria de profissionais honestos no ramo. Além disso, eu me recuso a aceitar que a desonestidade seja a regra para uma atividade como essa. Por outro lado, sei que é difícil sobreviver sendo o “Joãozinho do passo certo” quando todos à sua volta acham isso normal. A pressão é imensa.
Mas uma outra forma de ver a corrupção é que ela nem sempre é em dinheiro. Essa história quem me contou foi um colega bem mais velho e muito brincalhão, que dizia que “todo o fiscal tem o seu preço”.
Ele estava numa obra de uma estrada e o fiscal do trecho era um homem muito sisudo. O homem era tão sério e correto que não dava nem chance de alguém tentar corrompe-lo. A fiscalização era duríssima, como geralmente acontece no início das obras. Mas um belo dia o meu colega descobriu que o tal fiscal gostava muito de pescar. Então ele resolveu armar uma cilada para o tal fiscal. Perto da obra havia uma fazenda de um amigo do meu colega. Na fazenda havia um açude onde se criavam peixes. O meu colega combinou com o fazendeiro que iria pescar lá, mostraria o peixe para o fiscal, mas diria que o fazendeiro não permitia outras pessoas pescassem no açude, só os muito amigos. O meu colega fez isso. O fiscal ficou entusiasmado, mas não acreditou que o fazendeiro teria restrições e foi tentar pedir para pescar lá. Conforme combinado, os funcionários da fazenda não deixaram o homem entrar. Frustrado, o fiscal sisudo não viu outra alternativa do que vencer o orgulho e pedir o favor para que o meu colega intercedesse por ele junto ao fazendeiro. Satisfeito que o plano dera certo, o gaiato do meu colega acertou com o amigo fazendeiro. A partir desse dia o clima entre na relação entre o fiscal e a empreiteira melhorou muito. Todo o fim de tarde lá ia o ex-sisudo fiscal com sua vara de pescar no ombro em direção ao açude. No caminho, quando cruzava pelo meu colega, abanava. E nesse momento o gaiato pensava: “todo o fiscal tem o seu preço”.
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