Da série "Corrupção e Obras Públicas". Você pode entender como fantasia ou ficção, eu só conto o que eu vi, ouvi e vivi. Será?
Fonte: Wikipédia |
Eu ainda não era formado,
mas já trabalhava no ramo com carteira assinada. É
bem verdade que só ganhava um salário mínimo, numa época que ele
valia bem menos do que hoje. A vantagem é que ia a pé para o trabalho
e podia continuar na faculdade. Era um sábado qualquer, e estávamos
só
eu e um colega que já trabalhava na empresa há
mais de 15 anos. Tínhamos que entregar um trabalho para segunda-feira. Naquela
conversa amistosa, não sei ao certo o porquê,
ele resolveu contar alguns “segredos” da empresa. Normalmente coisas bobas,
mas que ele achava importantes. Queria impressionar um novato (no caso eu) com
o tanto que ele sabia do mercado.
De todas as coisas que ele me
falou e mostrou, só uma delas eu lembro bem até hoje. Era a cópia de uma folha
datilografada onde constavam um pequeno texto. Nele havia um compromisso de fazer
uma espécie de “rodízio” de vencedores de licitações
num determinado órgão público estadual. Abaixo do texto vinha
uma lista numerada, em sequência, onde constavam os nomes de cada
empresa (cada uma com o seu número) e o nome do representante de cada
uma delas. Não havia assinaturas, mas, conforme me confidenciou o colega, a
empresa tinha uma cópia assinada no cofre.
Eu já sabia o que
vinha a ser um cartel, só que para mim era só
uma coisa dos livros. Foi a primeira vez que eu tive diante de uma comprovação,
mesmo que tênue já que não vi as assinaturas, da existência
de cartel nas empreiteiras de obras públicas. Isso há mais de 25
anos. Fiquei muito espantado e incomodado. Para o meu colega, aquele documento
era uma espécie de seguro no caso de uma ameaça de demissão.
Pelo menos ele acreditava nisso. Para mim foi só motivo de revolta. Mas essa era a
realidade do mercado. Não era preciso estar envolvido
diretamente com a ilegalidade, mas ela existia, quisesse eu ou não.
O esquema era simples, cada
licitação seria vencida por uma das empresas da lista. Uma de cada
vez, na sequência. Outras entrariam na concorrência somente
para “dar cobertura”, apresentando preços
maiores. Os orçamentos já vinham da empresa que estava indicada
para vencer. A nossa única tarefa era maquiar a formatação
das planilhas, majorar alguns preços para ficarmos acima da vencedora pré-determinada
e colocar o logotipo da empresa. Era comum até o representante da vencedora levar os
envelopes das concorrentes para serem entregues nos órgãos
públicos.
Se a obra fosse grande demais para apenas uma das empresas arcarem, as regras
mudavam. Só que eu já não lembro dos detalhes.
Fontes:
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